Uma viagem a marte, mas sem retorno.
A ficção errou! Os marcianos não nos atacaram, nós é que vamos ocupar o planeta deles.
Paul Davies é físico, escritor e divulgador de ciência, conhecido internacionalmente e ganhador de diversos prêmios graças a seu trabalho de divulgação científica. Escreveu dezenas de livros e agora junto com Dirk Schulze- Makuch, da Universidade de Washington, publicou um artigo na revista científica Journal of Cosmology, chamado To Boldly Go: A One-Way Human Mission to Mars – Para Audaciosamente ir: Uma Missão Humana sem Retorno a Marte, em tradução livre.
A ideia deles é enviar uma missão tripulada a Marte, mas sem retorno. Com isso dois objetivos seriam atingidos: Reduzir drasticamente os gastos e assim tornar viável uma missão ao planeta vermelho, em um tempo não muito distante, e começar a colonização humana extraterrestre.
As viagens espaciais são extremamente caras, e quando tripuladas os custos sobem exponencialmente, para garantir a sobrevivência dos astronautas.
Se uma ida até a Lua, já não é nada tão simples, ir à Marte é muito mais complicado. Enquanto a viagem a Lua demora em torno de 3 a 4 dias. A ida até Marte leva 6 meses, com a tecnologia atual. E o pior, a volta pode demorar um ano e meio. Isso porque não podemos esquecer que os planetas se movem em torno do Sol. Por isso o lançamento de ida deve acontecer quando os dois planetas estão bem próximos. Essa nova proximidade só voltará a ocorrer um depois.
Davies, Schulze- Makuch imaginam que se a viagem for só de ida, os gastos seriam extremamente reduzidos, pois a nave não precisaria de tanto combustível e suprimentos. A ideia deles é mandar duas espaçonaves com dois tripulantes em cada uma. Outras naves não tripuladas seriam lançadas de tempos em tempos enviando suprimento. Enquanto os colonizadores começariam a criar as condições adequadas à sobrevivência humana no planeta vermelho.
A colonização extraterrestre não é fruto de um desejo maluco e excêntrico, muito pelo contrário. Apesar de ainda termos bastante espaço aqui na Terra, não podemos deixar de perceber que a ocupação humana acaba trazendo impactos ambientais que se voltam contra nós mesmos. Há um motivo ainda mais importante: A continuidade da raça humana.
Extinção em massa não é apenas roteiro de filme de Hollywood. O grande paleontólogo e divulgador de ciência Stephen Jay Gould nos conta em seu livro: O sorriso do flamingo – (Editora Martins Fontes) que nosso planeta já passou por inúmeras extinções em massa, sendo a dos dinossauros, apenas mais uma. E há registros de pelo menos 5 grandes extinções, onde mais de 90% de toda forma de vida, animal e vegetal foram extintas.
Não estamos, portanto, livres de uma extinção, seja ela provocada pela colisão com um grande meteoro ou cometa, por uma pandemia global, ou até mesmo por causa humana, como uma hecatombe nuclear. A colonização do espaço é portanto uma tentativa de preservação da nossa espécie, e Marte é uma boa opção.
Marte tem uma aceleração da gravidade parecida com a nossa. Também possui atmosfera, não como a nossa, mas suficiente para criar um efeito estufa que possa garantir uma temperatura média adequada, condizente com a vida humana. Além disso, o planeta é rico em minerais, dióxido de carbono e provavelmente água.
Os autores deixam claro que os astronautas devem ser voluntários, pois seu retorno à Terra será remoto e mesmo sua sobrevivência não estará assegurada.
Apesar da ideia parecer maluca, não podemos nos esquecer que os grandes exploradores do passado viveram aventuras muito parecidas como essa. Principalmente aqueles que atravessaram grandes distâncias, como Américo Vespúcio, Cristóvão Colombo e Cabral. Além desses grandes descobridores, os colonizadores das Américas também vinham para cá, enfrentando perigos enormes, não apenas durante a viagem, mas aqui no novo mundo.
Se esta colonização der certo teremos que enfrentar questões parecidas como a dos primeiros colonizadores, claro que guardadas as devidas proporções. No mundo de hoje a telecomunicação é espantosa. Não levamos mais horas para conseguir um ligação interurbana. E quase tudo em tempo real. Até a rotina de mineiros presos a 700m abaixo da terra por 2 meses pode ser transmitida.
Mas a comunicação com moradores em Marte não será tão fácil, pois a velocidade da luz é grande, mas é finita. O planeta está tão distante da Terra, se comparado com a Lua, por exemplo, que a luz pode levar mais de 10 minutos para chegar a Marte (já para a Lua, a transmissão demora apenas 1,5 segundos). Dessa maneira uma comunicação em tempo real seria mais entediante que as comunicações na internet nos primeiros modems de 14400 kbps. Imagine você fazendo uma pergunta e após mais de 20 minutos vem a resposta: “ O que? não entendi, pode repetir?”
A proposta é ousada, mas bastante plausível. Ao comentarem com seus colegas cientistas, vários argumentaram que gostariam de ser voluntários. O próprio Schulze- Makuch disse que seria o primeiro voluntário, mas entende que até que a missão fique pronta para partir ele já não terá mais idade para o embarque.
Bom eu gostaria muito de ir ao espaço, mas quero ser trazido de volta, prefiro o céu azul ao vermelho. (Claro que o medo de avião não influencia na minha recusa).
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